Disney Dream Cruise

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Muita gente me perguntou sobre o Disney Cruise que fizemos agora em maio, e por isso decidi fazer um post detalhando a viagem e as dicas desse cruzeiro tão bacana e diferente de todos outros que já fiz.

Vamos lá. Para começar esse foi meu quarto cruzeiro e o primeiro que fiz com crianças. Minha estréia num navio foi lá no século passado, em 1997, na Royal Caribbean. Não recordo muitos detalhes dessa viagem, eu era adolescente e fui com meus pais e irmãos, mas foi um roteiro bem parecido com o da Disney, teve Bahamas como destino e 3 noites a bordo saindo de Miami. Lembro do básico, jantar com capitão, piscina, lojas, águas claras do Caribe.

O segundo foi um cruzeiro de 2 semanas para a Patagônia em 2008, saindo de Santos e passando por Argentina, Uruguai e Chile. O navio era o Grand Voyager, e as paisagens que vi nessa trip foram inesquecíveis. Destino incrível, com destaque para Ushuaia e Canales Fueguinos. Muitos glaciares, animais marinhos e festas a bordo. 14 noites é um período bom para uma viagem se você dispõe de tempo de sobra, pois é suficiente para conhecer o navio a fundo, aproveitar cada canto dele e ainda fazer boas amizades. Você realmente se sente em casa e aproveita tudo.

O terceiro foi em 2009, no finado Costa Concordia, lembram-se dele? Aquele que está afundado na costa italiana depois de uma barbeiragem do capitão? Era um navio lindo e enorme, o maior do mundo naquela época. O cruzeiro foi curto também, 4 noites na costa brasileira, visitando Búzios, RJ e outros. Tinha um SPA fantástico e boa área de entretenimento, porém tudo estava sempre cheio.

Resumindo, foram 3 cruzeiros em 3 companhias marítimas diferentes. Para mim o que conta pontos numa viagem de navio são as paradas (portos a visitar), a estrutura de lazer e a alimentação. Nos 3 cruzeiros acima, nenhum tinha comida excepcional e apenas o segundo era all inclusive. Nos outros as bebidas eram pagas à parte. O Grand Voyager teve a vantagem de ser um cruzeiro menor (1200 pessoas ao contrario das mais de 3 mil nos outros) e de parar nos lugares mais fantásticos do extremo sul das Américas. Todos tinham piscinas pequenas, mas em compensação jacuzzis bem aquecidas. Levando em consideração todos os pontos acima, uma viagem proveitosa depende de uma combinação de fatores que façam sentido para a sua família e para aquilo que você procura. Mas uma coisa é fato: se você gosta de mar, você nunca vai se decepcionar com um cruzeiro. Podem existir fatores negativos ou opções que não te agradem totalmente, mas estar num deck alto ou na varanda do seu quarto (se você tiver a sorte de estar numa cabine com vista pro mar) e olhar a imensidão azul à sua frente, sem preocupações mundanas e sem tempo corrido, é um bálsamo de vida. Só isso faz todo o resto valer a pena.

Agora com filhos, tudo muda de perspectiva. Eu tinha a principio a ideia de não ir com eles a um cruzeiro. Tinha medo deles estarem com um monte de gente indo e vindo, dos vãos nas cercas do navio, da falta de entretenimento infantil e montes de ideias que as outras viagens “só pra adultos” me deixaram pré-concebidas na cabeça. Tinha a impressão que ir num navio com crianças seria apenas me preocupar com eles e não me divertir. Mas agora morando aqui nos Estados Unidos, a terra dos cruzeiros, comecei a  ler mais sobre o assunto e pesquisar as opções. Logo de cara quando me deparei com os Disney Cruises, a primeira coisa que chamou a atenção é que eles são mais caros que os outros. Sim, os preços são mais altos e comparativamente você pode cometer o erro de logo exclui-los das suas opções, se não for a fundo e descobrir o porquê disso.

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Os navios são novíssimos. São lavados todos os dias. Inteiros. Por dentro e por fora. No dia que passamos em Nassau, ao lado tinham outros 3 navios que pareciam antigas carcaças perto do Disney Dream. Marcas de ferrugem, decks descacando. O Dream foi construído em 2011 e se mantem impecável. Todo seu design lembra os navios antigos, tem um ar de Titanic por onde você passa. Mas aliados à esse ar de tradicional estão as mais modernas tecnologias, as cabines mais bem aproveitadas e o melhor serviço de bordo que eu já vi. Começando pelas reservas, que você faz no próprio site disneycruise.disney.go.com. Tudo lógico, fácil de entender, você escolhe exatamente a cabine onde vai ficar. Dias depois, chega um DVD na sua casa explicando seu cruzeiro e suas paradas. Também chegam as tags para as malas e um guia de embarque. Você entra no site e também reserva todos os passeio off board que te interessam. Inscreve seus filhos no Kids Club. Marca tratamentos no SPA. Agenda seu transfer e seu hotel antes ou depois do cruzeiro se necessário. E até programa uma ligação do Mickey ou Minnie para sua casa ou celular, onde ele conversa com seus filhos na véspera da viagem! Nem preciso dizer que os meus amaram receber essa ligação logo antes de viajar.

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Nosso porto de saída foi Port Canaveral, em Orlando. Viajamos aqui do Michigan para lá na véspera, essa é uma dica preciosa que deve ser seguida sempre. Se você não mora na cidade de embarque, não deixe para voar no dia do cruzeiro. São incontáveis as historias de pessoas que perderam a viagem inteira por atraso em voos. O navio não te espera. Ele parte pontualmente na hora marcada. Isso vale para o primeiro dia e todos os outros também. Nós passamos a noite no hotel do aeroporto e logo de manha pegamos um taxi para Port Canaveral. O transfer da Disney só compensa se você está sozinho ou em 2 pessoas, em mais passageiros um taxi fica bem mais em conta, na verdade saiu metade do valor do que sairia o transfer para nos 4, com a vantagem que parte na hora que você bem entende e sem precisar ir num ônibus cheio.

Chegando ao porto, é gritante a diferença da baderna e desorganização do porto de Santos no Brasil. Aqui você é recebido e já deixa as malas ao sair do carro, não tem que carregar nada. Já entra num prédio com ar condicionado, onde você é atendido por setores (raio x, check in, documentos e afins) com não mais que 3 ou 4 minutos de espera em cada um. Aí você vê a diferença de ter um padrão Disney na organização de todo embarque: todas as pessoas simpáticas, receptivas, personagens Disney para distrair as crianças. Logo após a ultima etapa, onde você ganha os cartões (que serão seus ID, chave do quarto e cartão de despesas nos próximos dias), você recebe um numero de grupo de embarque. E as pessoas são chamadas ao navio de acordo com o numero. O nosso era grupo 16, e quando saímos a fila estava no numero 12. Para já aproveitar, passamos na base do kids club montada no porto e já colocamos as pulseiras com sensor nas crianças. Tão lindas, que se você quiser pode levar pra casa pagando a bagatela de 12 dólares ou devolver no ultimo dia sem custo algum, que foi o que fizemos. Terminando isso já chamaram o 16, e então entramos! Não esperamos nem meia hora entre chegar no porto e entrar no navio, que diferença dos outros cruzeiros, onde 2 horas foi a media da espera. Para mim esse foi o primeiro fator que justificou o preço mais alto do cruzeiro: a eficiencia no atendimento e a quantidade de funcionários disponíveis para fazer tudo progressar rápido. Eram mais de 30 balcões de check-in abertos e mais de 100 pessoas trabalhando para que tudo se desenvolvesse sem demora. Uma foto linda logo na entrada do navio, uma caminhada pela passarela e pronto, estávamos dentro!

Welcome Rosén Lopez Family!!!” anunciaram assim que colocamos os pés no navio.  Todos grupos são recepcionados com um welcome personalizado. Uma horda de capitães e princesas davam as boas vindas para a alegria das crianças. Era quase meio dia, e os quartos só ficam disponíveis a 1:30 PM, então fomos almoçar. Escolhemos o Enchanted Garden para comer, e foi a escolha mais acertada. Ele fica no deck 2, e a maioria das pessoas chega no navio e vai comer nos decks 11 ou 12, nos buffets. Foi uma primeira refeição digna de banquete: camarões jumbo a vontade, patas de caranguejo, filet mignon preparado à perfeição, buffet de sorvete (detalhe: todos sorvetes servidos dentro dos restaurantes, inclusive esses à vontade, são Haagen Dazs). Esse foi o segundo fator que realmente justificou o preço mais alto do Disney Cruise em comparação aos outros: a comida é farta, impecável e de qualidade MUITO superior. Se para você comer bem é importante, não tem como escolher outra companhia.

Nosso quarto 9030 ficava no deck 9. Como fechamos o cruzeiro de última hora, não tinham muitas opções de quartos, mas foi a escolha acertada. Primeiramente pensei no deck 10 onde ainda tinham mais quartos disponíveis, porém ele fica logo abaixo do piso de lazer, então tem ruídos o dia todo. Também tem uma estrutura de metal tipo um beiral que “tampa” um pouco da visão do céu no deck 10, por isso se você for escolher cabine com varanda fique entre os decks 9, 8 ou até 7. Ficamos na parte da frente do navio, praticamente não sentimos o navio balançar, nem mesmo a noite. Ninguém teve enjoo ou desconforto nenhum. Um quarto com varanda é outro diferencial que despende um pouco mais de investimento financeiro em comparação às outras cabines (são 4 categorias: interna, janela externa que não abre, varanda e concierge), mas que vale cada centavo. Você ter sua área privada para olhar o mar, seja a tarde ou no meio da noite de pijamas, poder tomar um vinho vendo as estrelas, avistar arraias, tartarugas e ate tubarões, não tem preço. E aquele meu medo inicial, do perigo de criança caindo nos vãos do navio, foi totalmente infundado. Os vãos no Disney Cruise são recobertos com peças de acrílico, então não tem como uma criança passar nem se debruçar entre as barras. A segurança no navio é impecável, parece tudo feito à prova de crianças e para as crianças ao mesmo tempo.

O quarto tem uma cama de casal e um sofá, escrivaninha, frigobar, armário e espaço de sobra para guardar tudo. As malas e o carrinho fechado cabem embaixo da cama. O banheiro é dividido em dois espaços separados, um tem o vaso sanitário e uma pia e no outro fica o chuveiro e banheira e outra pia. Ou seja, todo mundo pode usar o que precisa mais facilmente sem uma única pessoa ocupar todo o banheiro. Super prático principalmente no fim do dia quando todos precisam se arrumar. À noite o camareiro vem e reorganiza o quarto, transforma o sofá numa cama e desce do teto a segunda cama, como se fosse um beliche com o sofá. O teto do quarto fica estrelado nessa parte, as crianças adoraram! Cada um tem sua luz de leitura, e uma cortina se fecha separando o espaço dos pais e filhos. O navio tem room service 24 horas, você pode pedir qualquer refeição no quarto sem custo algum (só paga a taxa de serviço e as bebidas se forem em lata ou alcóolicas, assim como também funciona no restante do navio). Uma dica legal é cada pessoa da família ter sua garrafinha de água, tipo aquelas esportivas, que podem ser enchidas nos decks de lazer a qualquer hora, assim você não precisa ficar comprando bebidas em lata ou garrafas de agua no quarto. Lá nessa estação de bebidas você escolhe entre sucos, refrigerantes, iced tea e agua. Também tem sorvete de máquina todo o dia (alegria das crianças) e snack bar com pizzas e lanches 24 horas. Fora os mimos doces que deixam no quarto durante o dia, com cartõezinhos delicados e mensagens de boa estadia. Fome você não vai passar, pelo contrário, se come demais e a todo tempo. Bem a noite, quando você acha que já se acabou de comer no jantar de 6 pratos, lá vem a ceia da meia noite com crepes e salgados maravilhosos! No último dia eu literalmente não consegui mais comer e meu breakfest foi só suco de laranja e uma fruta antes de sair no navio 🙂

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Voltando ao cruzeiro, no segundo dia paramos em Nassau. Escolhemos fazer um boat tour até a Blue Lagoon Island. Fomos conhecer um santuário de golfinhos, uma ilha onde eles vivem em seu habitat natural. Os golfinhos de lá são animais resgatados que vieram de parques e zoos aquáticos americanos que fecharam (alguns devido ao furacão Katrina e alguns também porque os parques tipo Sea World estão perdendo visitantes e deixando de funcionar). Os golfinhos interagem com as pessoas, nos dão beijos, e voltam a nadar pelo mar. Infelizmente não podem ser completamente soltos, a maioria deles já nasceu cativo, me partiu o coração, mas ao menos estão no oceano, convivendo com outros golfinhos, peixes e arraias, sentindo a maré e vivendo em seu habitat original, e não uma piscina de concreto. O lugar é realmente lindo, e a Lolo se apaixonou mais ainda pelos golfinhos. Era um sonho antigo dela ver eles de perto, e que eu pensava que não se realizaria pois me recuso a levar meus filhos ao Sea World e afins. Que todos os golfinhos em cativeiro possam ser, se não soltos, reabilitados assim um dia. Faça a sua parte, não visite parques com animais em cativeiro e expostos ao publico (se tem duvidas do porquê, assista ao documentário Blackfish).

Voltamos ao navio passando pelo centro feio de Nassau, bagunçado e desorganizado. Não vale a visita. Se você não for fazer passeio, nem desça do navio nessa parada. Aproveite que muita gente desce, e o navio fica vazio e tranquilo para expolora-lo a vontade. Essa tarde passamos na piscina e no Aquaduck, um enorme tobogã transparente que circunda o navio, super cool especialmente para as crianças. Se der deixe as crianças no kids club por um tempo (eles sempre vão querer!) e vá para a parte de lazer da frente do navio, que é adults only. Piscina mais tranquila, vista de tirar o folego, seviço de bar, drinks top e silêncio! Perfeito pra ver o fim de tarde e a partida do navio nesse segundo dia.

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Os horários de shows e jantar são um pouco limitantes, e se tem algo que eu não achei ideal foi isso. São 2 turnos de jantar: um as 6:30 e outro as 8:15. Nem pensei em pegar o primeiro, essa hora estávamos sempre na piscina ainda. O problema é que os shows Disney são inversos ao jantar. Entao quem janta primeiro vê o show depois, durante o segundo jantar, e quem janta no segundo turno teria que ver o show durante o primeiro jantar. Não vimos nem uma única noite. Não teria como estar de banho tomado e prontos as 6 pra ver um show, para nós curtir o outside era a prioridade. O ideal seria que os shows fossem após o jantar, nos dois casos. Mas nem tudo é perfeito, é questão de se adaptar e de fazer o que for possível. O jantar era cada noite num restaurante diferente, todos os dias um cardapio mais criativo que o outro, nessa noite o inesquecível foi o tartar de salmão e o ravióli de lagosta. São várias entradas, appetizers, pratos principais e sobremesas, e você pode escolher quantas opções de cada quiser. São pequenas porções, então você pode comer vários sem (tanta) culpa. O mais legal nos jantares era que por volta das 9, quando as crianças já estavam jantadas, os tios do Kids Club apareciam nos restaurantes e levam as crianças para lá, para que os pais pudessem curtir o restante da noite tranquilamente. Todo mundo ficava feliz, nós e eles. Numa noite comum o kids club fechava por volta das 11 da noite, mas em noites especiais ficava ate 1AM. Essa segunda noite era Pirates Night, e tivemos uma grande festa no ultimo deck, com DJ a céu aberto e um show de fireworks incrível sobre o mar! Pra ficar na memória pra sempre!

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Amanheceu lindamente o terceiro dia, e ao sair na varanda já nos deparamos com a bela Castaway Cay, a ilha particular da Disney. Linda, linda, linda. Logo após o café da manha descemos para a ilha. Mergulhamos (bonitinho mas nada excepcional, quem já fez mergulho em Punta Cana ou outros lugares do Caribe não vai achar nada de mais, mas para as crianças valeu), nadamos, tomamos sol e andamos de bicicleta pela ilha, um passeio que esse sim vale muito a pena! São trilhas no meio do mato e uma parte na pista do aeroporto da ilha. No meio do percurso tem um mirante com uma vista total, a imensidão verde, o azul do mar e o navio ao fundo. Cena de filme. Tudo bem cuidado, impecável, em cada esquina você ve os detalhes Disney. Até uma agência do correio tem, para quem quer mandar correspondência para qualquer lugar do mundo com o selo Castaway! Vale a pena reservar pela internet desde antes o pacote que inclui equipamento de mergulho, bóia e colchão flutuante e as bikes. Sai por um terço do preço de alugar direto na ilha, e você chega e já busca direto sem precisar pegar fila, cada um na hora que quiser. A ilha é super bem estruturada e organizada, e apesar do número de visitantes nada fica lotado. Cadeiras de sobra na praia, serviços de garçon (mojito delicia) e nada de fila no almoço (era um barbecue estilo americano, varias opções de salada e frutas) e um trenzinho que te leva de uma ponta a outra. No outro extremo da ilha fica uma parte adults only, onde quem vai sem filhos pode ficar sossegado. Acontece também na ilha uma corrida 5K Run, logo cedo, e que infelizmente eu não fui, mas deveria ter ido. Todo mundo que finalizar ganha medalha especial Disney.

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A tardinha voltamos para o navio, as crianças queriam ir no Kids Club de novo, então as deixamos lá. Para entrar a criança passa a pulseira por um sensor, que faz o check in. Na saída, só o pai ou a mãe ou alguém cadastrado podem retirar, passando seu cartão e a a pulseira da criança no sensor novamente, e ainda dizer uma senha previamente cadastrada para confirmar. Lá no kids tem vários ambientes, cada um inspirado em filmes como Star Wars, Toy Story, Rapunzel, além de um refeitório e lavadores automáticos de mão, um item bem curioso. Você só coloca a mão em dois buracos e a máquina faz todo o trabalho! Bom para as crianças preguiçosas como as minhas. Obrigatório lavar a mão ao entrar, tanto no Club quanto nos restaurantes, onde os funcionários entregam wipes na porta. Bem melhor que o álcool gel, que eu pessoalmente não gosto. Lá no Kids Club ficam crianças de 3 a 12 anos. Elas podem brincar nas atividades dos monitores, nas competições mais focadas na idade da Lolo (ela adorou e ganhou várias, recebendo prêmios bem legais como bonés e outros souvenirs Disney) ou jogar os games, desenhar, pintar. Se quiser ir embora antes, os funcionários mandam uma mensagem aos pais via telefone do quarto. Todos os quartos tem 2 telefones portáteis tipo celular que você leva com você durante o dia, e usa para se comunicar com quem quiser no navio. Mais uma comodidade incrível, já que os celulares não funcionam em alto mar. Nesse dia me chamaram antes, Nico queria ir pro quarto, então fui buscá-lo e ele estava tão cansado que dormiu 3 horas seguidas essa tarde. Para quem tem filhos menores, tem um berçário super fofo que cuida dos pequenos, mas é cobrado a parte. Para os adolescentes existe uma programação especial também, um espaço teen e tudo focado em muito agito, inclusive passeios fora do navio e uma parte da ilha só para eles. A estrutura do navio tem também um SPA de frente para o mar, com massagens de todos os tipos, saunas, tratamentos de beleza e relax. Chás de todas as ervas possíveis, infusões de aromas, tudo para você não querer sair de lá. Eu pelo menos não queria. Também tem salão de beleza tradicional, e para os pequenos, o Bibbidi Bobbidi Boutique, que é um mini salão que veste e transforma as meninas em princesas, sereias e afins, e os meninos em piratas ou super heróis. Lolo já não quis ir, com 9 anos ela não tem mais interesse nenhum em princesas, e Nico não tem paciência nenhuma para se produzir.

Como tudo que é bom dura pouco, nossa viagem chegou ao fim. Passamos esse último entardecer na varanda do quarto enquanto o Nico dormia, vendo a Castaway Cay ficar para trás. Esse cruzeiro é maravilhoso, mas deixa um gostinho de quero mais, 3 noites passaram voando. São tantas as atividades que quando você esta adaptado, já sabe onde ir, é hora de desembarcar. Mas vale cada minuto! Os cruzeiros Disney fazem EUA, Europa, Caribe e Alasca. Estou aqui quebrando a cabeça pra decidir qual será o próximo. Pode ser que eu viaje em outras companhias no futuro, que tente outro tipo de navio, mas enquanto tiver crianças indo comigo, com certeza a escolha vai ser Disney.

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No último dia acordamos cedo, já existe um restaurante designado para o last breakfest e horário cravado para sair do navio. É realmente acordar e partir. Se você quiser fazer compras nas lojinhas, não deixe para o último dia pois estará tudo fechado. Optamos por levar nós mesmos as malas, que eram pequenas, do que deixar na porta do quarto na noite antes. Assim também saímos mais rápido e depois de passar a imigração já deixamos o porto direto. Se o embarque foi rápido, o desembarque mais ainda. Na saída, varias opções de ônibus te levam ao estacionamento, a Orlando, ao aeroporto ou a locadora de veículos, que foi o nosso caso. Dali seguimos para Magic Kingdom, para finalizar uma viagem perfeita no parque perfeito. No fim do dia voltamos ao aeroporto e embarcamos, chegando em casa só a meia noite. Cansados, mas felizes por dentro. São tantos detalhes que mesmo com esse texto imenso eu certamente esqueci de mencionar muitas outras coisas e dicas, que vou acrescentando ao lembrar.

Mas importante mesmo foi ter vivido essa experiência com os meus filhos, e a principal dica é, se você tem a chance, não deixe de ir, não pense duas vezes. Dessa vida a gente só leva o que a gente fez e as pessoas com quem compartilhou. Viaje, viva!

 

 

 

 

 

Entre móveis e buffalo wings

house midlandHoje uma querida amiga me cobrou, com toda a razão, sobre os posts desse blog. Saindo do Brasil prometi que manteria esta pagina sempre movimentada, a família atualizada e todas informações dessa nova realidade devidamente postadas. Imaginei que teria uma vida americana tranquila, com tempo de sobra, filmes assistidos e pilha de livros (trouxe 20 do Brasil!) lida.

Não foi bem assim o nosso começo, mas acho que foi até melhor. Completaremos semana que vem dois meses por aqui. Muito bem vividos. Pousamos num sábado de manhã, com temperatura “amena” de – 17 graus. Tudo branco, aquele branco que embeleza, que encanta, que transforma casebres e árvores desfolhadas em cenário de filme. O estado de Michigan estava coberto de neve, quase num estado de hibernação (ao menos à primeira vista de quem chegava, as 6 horas da manhã) e logo no aeroporto de Detroit o primeiro desafio da viagem: fazer caber num carro alugado as 14 malas que trouxemos do Brasil. Mais o carrinho do Nico. Era uma minivan, mas também eram catorze malas! O bom de uma situação extrema como essa é que você não tem alternativa. Ou cabe ou cabe. E colocando malas nos pés das crianças, no meu colo e desmembrando o carrinho em partes, fechamos o porta-malas e partimos para Midland. Duas horas no carro, e chegamos então na cidade que seria nosso lar pelos próximos anos. O Fernando já morou aqui, primeiro alguns anos como criança, e depois como adulto quando veio à trabalho de novo. Ele já sabia o que esperar, e também conhece muito bem a cidade. Não que seja uma tarefa tão difícil, afinal são 40 mil habitantes e três avenidas principais, mas é bom saber onde ir quando se precisa. Já eu e as crianças apenas olhávamos pela janela, a ficha ainda não caindo totalmente. Era muita beleza, muita claridade, muito frio, um mundo novo à nossa espera. Estávamos ansiosos pela nossa casinha que só conhecíamos por fotos, então fomos espiar a nova morada antes de ir para o hotel. Quando viramos a esquina, perdi o fôlego, eu e as crianças não acreditávamos em como era linda! Muito mais bela que qualquer vídeo, foto ou google maps que vimos anteriormente. Ainda não tínhamos chaves, então a primeira visita foi uma volta ao redor dela e só. Apenas um reconhecimento de terreno, mas bastou para que já nos sentíssemos literalmente em casa. O único porém foi que estávamos com as roupas de inverno do Brasil que, well, aqui não servem para nada. Eu estava de botas e parecia que estava de havaianas. As crianças reclamavam que não sentiam mais os dedos. Todos de volta para o carro.

Ainda nesse dia, depois de descarregar a “carga pesada” no hotel, era hora comprar os móveis da casa. Nós optamos por não trazer a mudança completa do Brasil, queríamos deixar a casa montada em São Paulo, portanto enviamos apenas objetos pessoais e alguns brinquedos das crianças, que chegariam duas semanas depois. Então se a gente quisesse ter onde dormir dali uma semana na casa, teríamos que ir às compras, mesmo depois de uma viagem de quase 20 horas. Eu estava exausta, mas compras sempre me animam, não sei por que…

As crianças estavam incrivelmente  comportadas, e Nico adormeceu num sofá da loja. Na hora do almoço decidimos ir à um Red Lobster logo em frente, um típico american food com um pãozinho transgênico de comer de joelhos (não entrarei em maiores detalhes, o fast food daqui será assunto de um post logo mais). Nico foi adormecido no carro e foram, juro, apenas dois minutos entre um lugar e outro. Porém foi tempo mais que suficiente para escapar aquele xixi monstro, primeiro na cadeirinha, depois no carro, nas roupas dele, e em tudo que estava abaixo. Claro que não tinha uma única peça de roupa reserva, todas as 200 malas tinham ficado no hotel, e afinal ele já desfraldou há 1 ano!  Então a solução foi improvisar, achamos uma Marshalls e lá compramos cuequinhas (Calvin Klein, 3 dólares o pack com 4 unidades- no Brasil nem no Carrefour tem cueca a esse preço) e uma calça nova. Troquei ele num canto da loja, alguns americanos olhando torto, mas àquela altura eu nem ligava mais. Almoçamos deliciosamente e terminamos as compras de parte dos móveis. Na verdade finalizamos tudo, só faltou o quarto do Nico e por causa disso o coitado ficou sem cama até ontem, alternando noites em colchão no chão ou na cama da irmã. Mas valeu a pena, já que agora ele tem a cama barco mais linda do mundo!

O nosso primeiro fim de semana aqui foi cheio de descobertas e historias bizarras. Uma delas de uma família que estava hospedada no mesmo hotel, na verdade um Residence Inn que tem cozinha e quarto. Eram pai, mãe, 2 filhos adolescentes e o namorado da filha. Conversa vai e conversa vem na jacuzzi do hotel, e eles então nos contam que estão lá porque a casa pegou fogo. Ficamos chocados, logo perguntei se estava tudo bem, eles disseram que sim, que conseguiram salvar algumas coisas e que o seguro iria pagar tudo, além da reconstrução da casa  e esses meses no Inn também. E o pai, no meio de um ataque de riso master,  relata o que aconteceu no fogaréu, explicando que ele não tinha muita experiência na cozinha e que deixou a casa incendiar tentando fritar uma porção de buffalo wings, “a very, very HOT buffalo wing”, como ele dizia! Eu juro que não vi graça, mas Fernando caiu na risada com ele. O humor americano é bem peculiar, como estou aprendendo por aqui. Sua casa pega fogo, você vai para um hotel, você dá risada. Simples assim.

Mesmo sem incêndio ou fumaça alguma, nas primeiras noites o que com certeza mais incomodou foi o ar seco. Agora já nem sinto mais, porém nos primeiros dias acordava quase sem respirar, agoniada com a sensação de garganta doendo e respiração travada. Entrava com as crianças no banheiro de manhã cedo e ligava a água bem quente, apenas para sentir o vapor e conseguir respirar direito por alguns minutos. Mãos secas também viraram rotina, isso sem falar nas unhas que hoje em dia são curtas e nem se lembram mais o que é esmalte. É curioso como num lugar como aqui a vaidade entra em segundo plano. Aos poucos você se vê obrigada a deixar tudo aquilo que parecia fundamental e rotineiro, para dar lugar à uma nova forma de ver a vida. Abre-se mão de varias coisas, mas também entram tantas e tantas mais. E é isso que quero compartilhar com vocês aqui. Prometo que não demoro mais para voltar, e pretendo contar logo de cara sobre as escolas das crianças, que foram algumas das coisas que mais me impressionaram, tanto positiva quando negativamente.

Como tudo na vida, sempre existem dois lados 🙂

 

Comer e emagrecer?

Neste último final de semana, aproveitando que estava sem marido e sem filha, fui com a minha mãe conhecer um hotel spa. Um desses locais bem na moda atualmente, cheio de charme e, como eu imaginava antes de chegar lá, repleto de dietas, exercícios e fome. Especulava, equivocadamente, que encontraria um cenário cheio de pessoas com sobrepeso, cansadas de malhar e mal humoradas de tanto saborear jantares de folhas e sopas sem sal. Para sabotar antecipadamente a dieta, a caminho do spa, fui devorando uma caixa de Amanditas no carro.

Chegamos num entardecer gelado e ensolarado. Um lugar rústico, a pouco mais de uma hora de São Paulo, cheio de verde, almofadas coloridas, araras e cachorros. Um ambiente descontraído, onde todos são incrivelmente simpáticos. Ao chegar você já se sente em casa, recepcionado por 3 “emus” (espécie de ema peluda) que andam livremente pelo hotel. Logo após nos instalarmos num quarto com varanda e aquecedor, imprescindível nos dias de inverno, rumamos à última atividade esportiva daquele dia: aula de hidroginástica.  Água quentinha, aula divertida, que eu acompanhei bem mesmo com o barrigão. Na hora de voltar pro quarto, quinhentos metros de caminhada, molhadas só de roupão, no escuro e a temperatura em queda rumo aos 10 graus. Frio de verdade! Depois do banho, jantar, e daí começaram as boas surpresas culinárias: pode uma refeição de menos de 200 calorias ser gostosa, e o mais incrível, te deixar satisfeita?

A gente chega no hotel estressado, acostumado a açúcares e sal em excesso (acreditem se quiser, o segundo faz mais mal que o primeiro) e lá se depara com um cardápio que se inicia com uma sopa. De início meu primeiro pensamento foi: comida de hospital! Aquele sabor salgado tão comum às sopas não está presente, mas incrivelmente depois de umas colheradas ele passa a não fazer tanta falta, e a presença dos vegetais fica mais marcante. O prato principal é frango, com um molho supreme saboroso, acompanhado de salada de folhas e legumes grelhados. Tudo temperadíssimo com ervas, mas sem sal. Para completar, sobremesa, claro, porque todas as refeições tem 3 pratos. E nenhum gosto de docinho dietético. Era doce-doce de verdade! E com poucas calorias! Já no fim de noite, degustei o que acabou sendo a minha descoberta-delícia do final de semana: o chocolate quente light. Sou muito fresca para as coisas diet, com sabor artificial, mas esse chocolate parecia ser feito com o mais cremoso dos leites e o mais genuíno dos chocolate em barra! Só que ao invés de 250 calorias, tinha apenas 60 calorias a xícara grande. Fica a receitinha: uma colher de Molico em pó e uma colher de achocolatado Gold diet. Só. Mistura com água fervendo até dissolver. Parece milagre, mas eu vi e provei (e já estou sentindo falta!)

No dia seguinte, um dos monitores passa nos quartos acordando os hóspedes às 7 horas da manhã. Sem enrolação. Só eu, como gravidinha, fui dispensada da caminhada pelas fazendas vizinhas, de cerca de 7 quilometros. Minha mãe foi, adorou, e eu dormi até às 9 horas. Levantei e tomei o café da manhã, também farto, com duas torradas, queijo branco, geléia light, suco e duas frutas. Mais que suficiente até a hora do lanche da manhã (são cinco refeições diárias, que não permitem que o corpo sinta falta de comida, por menor que seja a quantidade consumida em cada uma). Depois fui caminhar pelo viveiro das aves. Parei logo de cara no cercado das araras. Animais lindos e coloridos. Estava bem na hora da alimentação delas, e aproveitei para ajudar o cuidador. Milho, maçãs e bananas, que elas comem das nossas mãos. Me encantou especialmente uma arara azul, daquelas em extinção no Brasil, réplica do Blu, do filme Rio (quem tem filho pequeno sabe). A arara azul era líder, e comandava as outars araras verde-e-amarelas. Elas ainda voam, e me entristeceu vê-las presas, tão domesticadas, mas ao menos têm um espaço aberto de 40 metros quadrados, com galhos, madeiras e cordas. E por serem nascidas em cativeiro não poderiam ser devolvidas à natureza de qualquer forma.

Nos primeiros dias, você fica ansioso pensando nas atividades. O que fazer? No segundo dia, a calma já transparece. Sentar no sol de inverno, ler um livro, escutar os sons do mato já são uma boa distração. Fora os lanches, sempre oportunos. O almoço nesse dia também foi excepcional. Quibe de soja, recheado com queijo branco. Simplesmente o melhor quibe que comi na vida. Infinitamente superior ao do Almanara ou de qualquer vovózinha árabe. Sério mesmo. A comida começou a me impressionar. Para acompanhar, batida (ou raspadinha) de suco Clight de tangerina. Outro achado. Parece que você está tomando um cocktail mega calórico, mas nada é do que um suco sem açúcar e com gelo. Como emagrecer pode ser tão saboroso?

À tarde, massagem, sauna e jacuzzi. E sempre conversando com novas pessoas, que eram incrivelmente interessantes. Tinham famílias inteiras, casais, até bebês lindinhos acompanhando as mães. Fizemos amigos por lá, e a cada dia aproveitamos mais. Quando se começa a entrar no esquema, a rotina do spa é viciante. O corpo passa a responder mais à dieta sem sal e açúcares, e a disposição aumenta. A sensação de bem estar também. À noite, jogos de buraco na lareira. Comecei perdendo, mas ganhei no final da rodada, é claro. Foi servido mais um jantar maravilhoso, hambúrguer de legumes (palmito, tomate e cebola “compactados” e grelhados) e salada de folhas verdes com tofu. De deixar qualquer um satisfeito, e olha que não sou vegetariana, porém depois desses dias eu descobri que seria possível abrir mão de carnes e continuar comendo bem. Quem sabe um dia…

Outro lanche maravilhoso que recebemos certa tarde foi uma pizza de pão sírio com fatias finíssimas de queijo branco e manjericão. Com suco de caju. De comer e repetir. Por sorte a minha dieta (como grávida) era sem restrições, portanto eu podia repetir. Os hóspedes normalmente são divididos em dietas de 600, 800 ou 1.200 calorias. É muito fácil perder peso dessa forma. No último dia, um desalentador jogo Brasil x Paraguai. Todos assistimos, beliscando mini torradas de gergelim com uma pasta de queijo cottage e ricota, acompanhadas de ameixas frescas. A pipoca com guaraná nem fez falta.

No dia de ir embora, fiz a caminhada das pedras. Um percurso, onde há um caminho de pedras, com água gelada (não fria, gelada mesmo) até a altura dos joelhos. Nas primeiras voltas, a impressão é que você deixa de sentir seus dedos. E pé. E tornozelo. Mas com o tempo,  a circulação vai se adaptando, e parece que todo o corpo recebe esse sangue refrigerado. Muito bom, e quando se deixa o caminho das águas, o pé começa a formigar de volta ao contato com o calor do ambiente.  Na hora do almoço, a melhor sobremesa de todas, para fechar a estadia com chave de ouro: pudim de soja com calda de frutas vermelhas. Comi duas porções. Uma das melhores sobremesas da minha vida, e olha que sempre fiz cara feia para a soja, qualquer fosse seu “veículo” alimentício, quanto mais um pudim.

Esses dias serviram para quebrar muitos dos meus preconceitos referentes aos alimentos. E modificar alguns hábitos, além de expandir minha idéias de receitas. Não é à toa que esse spa é famoso. Se as construções são simples, se os quartos não tem decoração combinada, tanto faz. O que realmente importa, a comida e o serviço, esses sim são impecáveis. Sabores e pessoas especiais. Desde a dona até o cuidador dos cachorros. E isso é o que faz desse lugar tão mágico e querido entre todos que vão para lá. De todos que conhecemos lá, a grande maioria já frequenta o spa há anos. Eu, com certeza, pretendo voltar. Se com apenas 4 dias você vê como a alimentação correta pode nos influenciar positivamente, imagina então ao longo da vida. Não só no peso, mas na saúde, na qualidade diária e no bom humor. Adorei a experiência, e nunca mais vou associar spa a fome. Pelo contrário, passei esses dias saudavelmente satisfeita. Por tabela, Nicolas agradece!

O que os guias não contam sobre Barbados…

Muita gente, inclusive alguns locais da ilha, acreditam que o tridente na bandeira de Barbados vem de uma antiquíssima simbologia do diabo, datada do século 16. Na verdade, o acessório negro presente na bandeira simboliza o tridente de Netuno, rei dos mares. Como a principal atividade econômica do país é a pesca, nada mais lógico. O azul dos dois lados simboliza o oceano e o céu, e o amarelo representa as belas areias de Barbados.

O que mais tem por lá são casas residenciais inacabadas. São habitadas, as famílias moram lá, estão praticamente prontas, mas falta a pintura externa, uma ou outra janela, ou então a cobertura da varanda. Demorei a descobrir o porquê, imaginando que talvez a pobreza fosse maior do que eu esperava, ou então que eles não tivesse lá muito bom gosto para arquitetura. Porém não é nada disso. Simplesmente existe uma lei em Barbados que isenta de pagamento de impostos as casas que ainda não estão finalizadas! Então os espertinhos deixam a casa “no forno” por até 5 anos, tempo de carência para finalizar o projeto, e durante esse período não pagam as taxas. Quem disse que só os brasileiros gostam de levar vantagem?

A ilha de Barbados é inteiramente formada por corais. Ela veio, literalmente, do nada. Sedimentos e restos de animais marinhos foram se acumulando durante milênios na depressão entre duas placas tectônicas, e quando estas se moveram,  fizeram surgir sobre as águas uma enorme porção de coral. Não existem rochas ou pedras, e tudo, inclusive morros, montanhas e cavernas são compostos por um material quebradiço e todo esculpido por correntes marinhas, há milhares de anos. No pico mais alto da ilha, encontramos conchas remanescentes do período em que tudo aquilo era coberto por mar.

Falar bem inglês não quer dizer que você conseguirá se comunicar por lá. Entender o dialeto deles é muito difícil, falam baixo e arrastado, como se “comessem” a primeira sílaba da palavra, e para compensar exagerassem na pronúncia da última. Demoramos horas para encontrar um restaurante chamado Turkey Nine Steps, indicado por uma falante vendedora de diamantes. Só conseguimos jantar quando associamos o belo luminoso que dizia 39 Steps ao restaurante de frutos do mar que procurávamos.

Foi a primeira vez na vida que, mesmo com muita fome, deixei de lado um delicioso fish cake. A pimenta era tanta, mais tanta, que a boca inteira parecia dominada por formigas. As receitas bajans levam muitos condimentos, e mesmo pratos que usualmente não têm sabor picante, como saladas, vêm vermelhas de tanto tempero. Talvez pela alimentação na ilha ser muito básica (em qualquer restaurante típico que você vá, a comida não foge muito do peixe frito, torta de macarrão, arroz e legumes) a pimenta acaba sendo um extra nos sabores a que eles estão tão acostumados. Outra curiosidade alimentícia assustadora: Barbados é o terceiro país das Américas que mais consome frango. São 12 lojas KFC numa ilha do tamanho de um bairro de São Paulo, e a rede Cheffette, a concorrente nativa, conta com nada menos que 17 estabelecimentos por lá. Haja pimenta pra tanto frango frito!

Um dos travessos macacos da ilha foi a causa do maior blecaute da história de Barbados, ocorrido em 2006. A empresa de energia relata que foi visto um macaquinho saltitante entre os fios de 24.000 volts da estação, que ao escalar um poste, provocou a ruptura de um dos cabos e deixou a ilha inteira no escuro por horas. O macaco infelizmente foi eletrocutado, claro.

Barbados é um dos 10 países do mundo que estão mais próximo de atingir as metas do Fórum Mundial de Educação. Está muito à frente de países como Argentina, Chile, e claro, Brasil, que ocupa a 72 posição. Em Bridgetown e outras cidades barbadianas, as crianças saem da escola e circulam pelas ruas com uniformes de corte inglês, impecáveis em sua vestimenta sóbria. Assim também é o sistema de ensino. A educação é obrigatória e gratuita dos 5 aos 16 anos, e a frequencia escolar é estritamente reforçada. Tudo muito bonito de se ver.

Viciados em Rum Punch. Esses são os barbadianos, movidos pelo “combustível” rosado. O nome Punch vem da palavra panch, que significa 5 em indiano. O número se refere aos sabores do drink, segundo um famoso poema de lá: one of sour, two of sweet, three of strong and four of weak, a dash of bitters and a sprinkle of spice, serves well chilled with plenty of ice. 
Qualquer lugar que você vá, lá está o drink. Até nos passeios, como no catamarã ou no Island Safari que fizemos, após 20 minutos de estrada o motorista saca um garrafão de dois litros da bebida, abre uma geladeirinha com gelo e distribui os copos aos passageiros. O aviso não é nada como “não exagerem na bebida”, e sim “cuidado para não derrubar nem uma gota na pessoa ao lado”. Porque isso sim seria um desperdício.

Bom, isso é um pouco de Barbados que só quem esteve lá conhece. Águas claras, praias paradisíacas e o sol são só detalhes.

A menina dos extremos

Morena terminou as aulas no final de junho, e no dia seguinte embarcou para a Europa. Foi feliz, de mochilinha nas costas,  passar férias com a família. Foi primeiro para casa do seu avô, no sul de um país nórdico. Brincou muito no enorme e bem cuidado jardim, nadou na piscina, irradiava felicidade em todos os momentos. Dormia num quarto espaçoso, e tomava banho de espuma todos os dias. Havia uma casinha de bonecas feita especialmente para ela, e as tardes eram divididas entre visitas ao mini zoológico e brincadeiras de bolinhas de sabão com seus tios e primos. Vistou também uma bela loja de brinquedos, e escolheu praticamente tudo aquilo que queria. Num entardecer vestiu seu mais belo vestido, com sandálias brancas e uma linda tiara prateada, e foi ao casamento de seu bisavô. Brincou até não poder mais, aproveitando o clima ameno, os doces que tinha à vontade e todo o carinho da mãe ao seu lado.

Dias depois, seguiram rumo norte. Foram conhecer a capital, e Morena se deslumbrou com as lindas construções antigas, com os espaços onde ela podia correr, com os castelos onde ela imaginava encantadas princesas e com os gramados e lagos intermináveis, onde sua pequena vista não alcançava o final. Se divertiu em museus com barcos gigantescos, se admirou com torres mais altas do que qualquer lugar onde ela já havia estado. Foi mimada, tomou sorvete, ganhou balas, escondeu-se em barracas de camping numa grande loja de esportes, sonhando que dormia num lindo acampamento.

Mais um amanhecer ensolarado, outro avião e outra cidade européia. Nesta capital tão ousada, Morena parecia ter muito mais do que seus 3 anos. Andou em barcos por todos os canais, sempre com seus lápis e desenhos a tiracolo, pois nunca deixava de ser criança. Caminhou corajosamente por muitos quilometros de ruas movimentadas,  e brincou com todas as personalidades de um museu de cera. Jantou salmão e caviar à noite, e tomou uma água de muitos euros a garrafa. Frequentou o Ice Bar, e aguentou bravamente a temperatura de menos 3 graus do ambiente. Na saída, com os dentes tiritando, posou para uma foto com um urso polar.

Um dia as férias européias acabaram, e era hora de Morena regressar. Brincou no sofisticado parquinho de madeira do aeroporto, tomou café da manhã com croissant e chocolate quente belga e embarcou de volta à sua casa. Assistiu incansáveis oito vezes um desenho animado sobre gatos no avião, e desembarcando, ganhou um par de sapatos rosas que ela mesma escolheu. Adormeceu nessa noite sonhando com os dias inesquecíveis que haviam passado, percebendo que foram as melhores férias que Morena jamais poderia imaginar.

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Loira estava de férias, e foi curtí-las na praia.  Foi feliz no banco traseiro do jipe, levando seus cachorros. Ficaram na casa do seu pai, um pedaço do paraíso, semi-intocado, com rio, mar e mata nativa a vontade. Se divertiu como nunca nos campos e matagais, flutuando suavemente na balança-barco, que a levava de lá para cá num vaivém empolgante. Acordava cedo e via o nascer do sol, que com suas tonalidades alaranjadas, tomava conta do azul escuro da madrugada. Brincava com amigos nativos da sua idade, correndo por praias desertas que eram só dela. Lá seu pai disse que ela podia ter o que quisesse, e então pegou lindas conchas e pedrinhas coloridas, tantas quantas coubessem em suas pequenas mãos. Numa tarde, vestiu-se graciosa e descalça, e foi a uma festinha de aniversário em outra praia. Curtiu até não poder mais, sorvendo a brisa do mar, comendo todos os docinhos que ela tanto gostava, e envolvendo-se em todo o carinho do pai companheiro ao seu lado.

Então, o tempo ficou chuvoso. Mesmo assim, as férias continuaram divertidas. Iam visitar cidades próximas, com feiras cheias de coisinhas encantadoras, onde Loira passava horas admirando pequenos artesanatos. Ela comia peixes recém pescados, arroz e feijão caseiro. Visitavam amigos, e Loira alimentava passarinhos de cores indescritíveis a cada entardecer. Certa manhã, encontrou um pinguim na praia. Vinha faminto, das águas do extremo sul das Américas. Cuidaram dele, dando calor, abrigo e sardinhas. Quis o destino que ele não sobrevivesse, e nessa data Loira colheu flores para que o pinguim tivesse uma linda despedida. Dias depois, Loira escolheu os animais de estimação que ainda gostaria de ter na casa: um casal de bodes. Ela foi mimada de todas as formas, ganhou iguarias que adorava beliscar, saboreou frutas saborosas e doces, e dormia todas as noites numa barraca de camping, sonhando que estava num lindo castelo encantado.

Mais uns dias, e o sol apareceu. Foram passear à beira-mar, e Loira curtiu o sol esquentando seu corpinho. Brincou na areia, e viu seu cachorro negro caçando caranguejos. Caminhando numa praia tão bela, Loira parecia ter mais que seus quase 4 anos. Flutuou de bote pelo rio, deslizando por suas águas calmas, sempre com suas bonequinhas ao lado, pois nunca deixava de sentir a alegria de ser criança. Comeu macarrão feito na fogueira, e tomou seu leite sob milhões de estrelas companheiras. Loira tomou banho de rio, e suportou bravamente a temperatura de cerca de 20 graus da água gelada, enxaguando seus já emaranhados cabelos com aquela água verde escura. Saindo do rio, posou sorridente e friorenta para uma foto com seu cachorro amarelo.

Um dia, as férias na praia acabaram, e era hora da Loira voltar para a cidade. Brincou no jardim de mato antes de partir, tomou seu café da manhã de leite com nescau e comeu uma banana. Curtiu a balsa que atravessava as águas em direção à terra firme, e ganhou pequenos bonequinhos feitos com conchas, para levar de recordação à sua casa. Essa noite, fechou os olhos lembrando docemente os dias que haviam passado, e constatando, realizada, que foram as melhores férias que ela poderia ter.

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Morena e Loira tiveram, cada uma à sua forma, dias diferentemente perfeitos. O que elas têm em comum então?

Loira + Morena = Lorena, e esta é a minha filha e a sua história no último mês. Uma menina que é mais que perfeita porque sabe ser feliz da forma que for. Ela tem a incrível chance de poder vivenciar realidades tão diferentes, e aproveitar intensamente tudo que a vida tão generosamente lhe presenteia. Passou duas semanas na extremo norte, e duas semanas no extremo sul, e nas duas situações, teve de sobra aquilo que é mais importante para uma criança: amor incondicional e total de mãe e de pai. E ela é feliz porque, com o amor, não lhe falta absolutamente mais nada.