Lolo & Adams

adams

Adams e Lolo foram um exemplo de afinidade à primeira vista. Confesso que minha maior preocupação com a mudança de país era a adaptação da Lolo numa nova realidade. Ela está com 8 anos, idade em que nos encontramos enraizados em nossa rotina, apegados aos amigos e principalmente à escola, nossa âncora. A única vez em que Lolo chorou foi ao se despedir do colégio e da melhor amiga, daí o peso que isso teve para mim. A escola aqui simplesmente teria que competir com a coisa mais importante para ela! A Adams School seria culturalmente diferente, com pessoas entrando na vida dela sem pedir licença, com novos métodos de aprendizado e o principal, tudo isso num idioma onde ela entendia o bom dia, boa noite e só.

Na segunda-feira após a nossa chegada realizamos a matrícula, e Lolo teve a chance de conhecer seus futuros colegas e professora. A Mrs. Welters é um amor de pessoa, e não poderia ter havido professora melhor para receber a Lolo nesse inicio, com a dose certa de paciência e cuidado que ela teve e ainda tem até hoje.  Também tivemos sorte, pois era o dia das fotografias anuais, e Lolo entrou no grupo e tirou a linda foto que ilustra esse post. Na sala dela tem dois alunos que falam em espanhol, e que estão ajudando enormemente na adaptação, e isso a deixou um pouco mais tranquila desde o começo. Durante o tour de reconhecimento na escola, quando alguém lhe dirigia à palavra, ela me olhava com aqueles olhos de jabuticaba questionando o que era aquilo! Eu estava aterrorizada com a idéia de largá-la, e toda a hora me vinha à cabeça o que eu acharia se estivessem me jogando numa sala com pessoas falando japonês… E eu estava fazendo isso com a minha filha! Mas enfim, ela não era a primeira e tampouco seria a ultima a criança a passar por essa provação. Se por um lado isso traria um pouco de apreensão momentânea, por outro representaria a conquista de ser fluente num novo idioma, o que certamente será um de seus bens mais preciosos e aproveitados durante toda a vida.

O sinal bate pontualmente as 8:37 AM. Horário quebrado assim mesmo, devido ao schedule dos ônibus escolares. É simplesmente maravilhoso poder despertar numa hora normal. As crianças não precisam madrugar, acordam as 7:30, dispostas e descansadas, tudo transcorre com muito mais calma do que no Brasil, onde nos levantávamos as 6 da manhã enfrentando uma correria sem fim. Tudo aqui parece ser mais razoável, planejado e organizado do que a realidade escolar brasileira, onde espremem os horários para que possa existir a turma da tarde e a da manhã, dobrando o numero de alunos matriculados e tornando a escola um “negocio lucrativo”. Aqui o bem estar dos alunos é prioridade, começando pelos horarios compatíveis a uma rotina de criança e completando com a liberdade de poder caminhar ou ir de bicicleta até a escola. Por enquanto o frio ainda não permitiu muitas dessas idas, mas todos os dias Lo me pede que a deixe caminhar sozinha ou com os seus amigos pelo menos um trecho na volta pra casa. Aqui não tem guarita, não tem tio da portaria. Aliás não tem nem portaria. As crianças saem sozinhas assim que o sinal toca, e vão até suas casas, ou os pais esperam nos carros ou vem caminhando busca-los. Realidade impensável no Brasil.

No primeiro dia na Adams Lolo recebeu sua agenda, uma pasta para os deveres de casa, e o mais incrível, um Ipad. Este é usado para acompanhar as aulas, criar textos e baixar jogos educativos. Redes sociais como FB, Instagram e similares são bloqueadas. O aluno tem um Apple ID vinculado a escola e  os pais controlam todo o conteúdo, assim como a professora também. É surpreendente, e cada família escolhe se a criança poderá trazer o Ipad para casa todo dia e nos finais de semana. Nós autorizamos, e a Lolo fica então com toda a responsabilidade, o que ajuda a desenvolver esse lado do cuidado com algo valioso. Lolo não cabe em si de alegria em ter seu próprio Ipad, e eu fico contente em não ter sido eu a dar simplesmente um objeto de entretenimento a ela, e sim que ela descubra o tablet como um objeto de estudo e de aprendizado, que nas horas certas pode sim ser divertido. Nas salas não existe lousa, e sim retroprojetor. Cada mesa de aluno tem um tampo que se levanta, onde as crianças guardam seus materiais e portanto não precisam levar diariamente mochilas pesadíssimas para casa. Também não há nada daquela ordem militar de carteiras enfileiradas, a classe se divide em grupos, duplas e trios, e tem um grande sofá. As paredes são todas decoradas com trabalhos, mapas e outros conteúdos. São visualmente mais ricas que as salas brasileiras.

O lunch time dura uma hora, e as crianças tem 3 opções: almoçar na própria casa, devendo retornar 50 minutos depois; almoçar na escola o “marmitex” trazido de casa; ou então comprar o almoço fornecido pelo colégio. Custa 2,70 dólares cada refeição, que inclui leite e sobremesa. Lolo simplesmente detesta. Não come o almoço da escola, e na verdade não perde muita coisa, já que a comida aqui está a milhas de distancia de ser saudável. Frituras, excesso de carboidratos, molhos gordurosos. Nem as crianças escapam. Acabo tendo que improvisar, e normalmente Lolo leva suco, um sanduíche ou cereal (leite é fornecido pela escola), cookies e uma fruta. Acaba que a principal refeição do dia se torna o jantar, e para uma pessoa com recursos culinários extremamente escassos como eu, está sendo um grande desafio manter a turma aqui bem alimentada. Mas vou aprendendo.

Lembrem-se que a Adams é uma escola PÚBLICA. Não se paga mensalidade, matrícula, nada. Fomos extremamente bem recebidos, e aqui se a criança mora no bairro, tem vaga assegurada à escola. Garantido. Na classe da Lolo, além do currículo normal, a turma tem aulas de espanhol (que ela já falava bem, agora está perto de se tornar fluente), artes e educação física. Também saem da sala três vezes ao dia para ir ao parque. Mesmo com temperatura negativa eles estão ao ar livre, nos primeiros dias Lolo não acreditava que ela realmente podia brincar na neve no intervalo da escola!

Dia 03 de março foi o primeiro dia de aula dela no 3rd grade. Por dois motivos (o idioma desconhecido e o fato dela estar adiantada na escola brasileira) decidimos que seria melhor Lolo refazer esse semestre (no Brasil já estaria no 4 ano) para então no outono, já mais acostumada ao inglês, começar o 4th grade no inicio de ano letivo americano. Nesse primeiro dia eu estava mais nervosa que ela quando a deixamos na Adams, mas não transpareci por nem um segundo. Também passei cada minuto do dia pensando em como ela estaria.

Mas toda a preocupação foi por água abaixo na hora em que ela deixou o prédio da escola as 03:44 PM, na hora da saída. O largo sorriso dizia tudo 🙂

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